“Mas a sua alegria apagava-se dia a dia,
e cobria-se de poeria, como a asa de uma borboleta
que um alfinete atravessou” – Victor Hugo
São dez horas da manhã, já estou no trabalho a mais de duas horas e não produzi nada. Acabei de tomar o café da manhã, chá e frutas. Sentei na minha mesa e… nada. Nada de conseguir focar no trabalho, nada de de fazer a vida acontecer, nada. A vontade mesmo é de abrir minha gaveta e dar fim na barra de chocolates que tem nela, dar fim porque só tem uns pedacinhos mesmo. Mas acho que se estivesse inteira, iria tudo também. Ai fico naquela indecisão “comer ou não comer”, em um primeiro momento decido não comer, porque lembrei de como me senti hoje de manhã, ao tentar me vestir e nada cair bem, por estar me sentindo uma “orca” (referencia aquela balaia fofa..). Entro em todas as redes sociais, esperança de algo ter acontecido, muitos seguidores novos, comentários (sonha), vejo vídeos que ainda não vi, curto fotos, posto uma na rede social mais “perfeitinha” (ninguém precisa saber como me sinto de verdade né?). Nas outras até abro a “real”, mas aos poucos, e, quem liga mesmo? E agora… agora nada. Vejo pessoas com muitos afazeres, preocupadas com data de entrega, empolgadas com novos trabalhos e eu? Nada. Segura o choro, engole o grito, não borra a maquiagem.
Ainda estou na luta contra a necessidade do chocolate, que esbarra no peso que está absurdamente alto (é assim que me sinto) e, por isso mesmo da vontade de tacar o foda-se e comer assim mesmo, lembro das dietas que a nutricionista já me passou, porque raios não consigo segui-las como antes? Culpa. Que gera um pensamento “o que é um peido para quem está cagado?” e isso, certamente vai até a hora do almoço. Até lá, já terei me convencido de que não sou nada, não sou capaz e não vale a pena me privar da única coisa que me dá algum prazer no dia, que é comer. Vou descontar isso na hora do almoço solo de cada dia. O prato? É bem cheio de salada (eu adoro!), mas tem mais um negocinho aqui e ali e, claro, TEM que ter sobremesa! Gordura e açucar são minhas drogas (por sorte, licitas!), me ajudam a entorpecer um pouco a realidade que, não é bem como eu esperava, como eu desejei quando era mais nova, tantas metas, sonhos, desejos… E, vamos a mais um “vácuo”, entre a hora do almoço e a de ir embora, onde eu deveria trabalhar mas a produtividade esperada não vem. Faço apenas o necessário para manter o emprego, afinal, é necessário dinheiro para pagar as contas e, o prazer alcançável, que é comer. Afinal, não posso fazer uma super viagem, nem comprar uma casa, nem terminar de mobiliar onde moro, nem comprar aquela roupa ou sapato legal, porque não tenho o dinheiro suficiente para isso. Mas dá para comprar um hambúrguer e um chocolate, entende?
Yupi! Hora de ir embora!! Passei o dia olhando pela enorme janela do escritório, esperando este momento chegar!! Querendo estar lá fora mais do que tudo! Assim não preciso ter a sensação das pessoas me julgando, olhando pra mim e pensando “nossa, como ela engordou né”? Nem que ninguém esteja mesmo fazendo isso (não tenho muitos amigos no trabalho, sou meio fantasminha, aquela que almoça sozinha todo dia e tal). Espero o fretado, entrando nele lembro que tenho mais uma hora e meia pela frente, de transito, de agonia… Incrivelmente meu ânimo de estar em casa, vontade de fazer mil coisas morre ai, nessa sensação de “perder” mais um pouco do meu dia, da minha vida.
Chego em casa, já são quase sete da noite, por isso gosto do horário de verão, da uma falsa impressão de que tenho “um dia” pela frente. Alegria momentânea, a recepção linda e carinhosa dos gatos! Que momento gostoso!! Por mim ele poderia ser pausado, eu poderia vive-lo por horas a fio. Mas, nem eles aguentam tanto tempo, doam o que podem e vão comer, brincar, viver! Eu entro em total inercia. Limpar a casa? Fazer comida? Arrumar os zoneados armários? Fazer as coisas do blog (gravar vídeos, editar fotos e afins)? Sair para correr? Treinar? E, nada… Mais um monte de nada. Não tenho energia, não tenho forças. Quando me dou conta, já são quase nove da noite.
“Você deveria se envergonhar, o mundo está com tantos problemas ‘reais’ e você ai, se arrastando!!! Você não deveria desabafar em redes sociais… Agradeça por respirar, agradeça por ter pernas e braços, por ter saúde, por ter o que comer, a vida é linda, você é perfeita…” – incrível como esse tipo de abordagem piora as coisas! Sinceramente, ela não precisa ser feita, quem trava uma luta contra si mesmo já escuta tudo isso, e mais um pouco, ecoando na mente e, mesmo isso, não diminui o sentimento de “nada”.
Ok, hoje vou jantar e fazer coisas do blog e, nossa! Já são uma e meia da manhã?! Preciso dormir pois as cinco estou de pé!!
“Ou”
Janto, sento no sofá, passo canais até meia noite, onde já estarei pescando e vou para cama, dormir um pouco até as cinco, onde um novo e igual dia vai acontecer. E o meu dia? Nada.
Deito sem vontade alguma de levantar, durmo pensando na possibilidade de nem acordar. Mas, as cinco o despertador toca e tudo se repete. Um looping desesperador que começa toda segunda feira e se repete até sexta. Os finais de semana? Ah, esses variam entre bons e não tão bons… Mas ao menos neles, me sinto vivendo, e não, “sub” existindo.